A maioria das crianças do estudo foram classificadas nos níveis II e III do GMFCS. Portanto, foi analisada a pontuação obtida nas dimensões em pé e no andar, correr e pular do GMFM de acordo com os níveis do GMFCS. Foi observada a evolução significativa em todas as dimensões avaliadas e na pontuação total do GMFM, após os dois momentos da pesquisa. Sendo que as crianças classificadas no nível III do GMFCS obtiveram maiores pontuações, com valores estatisticamente significativos (tabela 4).
DISCUSSÃO
A maioria das crianças do estudo foram classificadas nos níveis II e III do GMFCS. As diferenças entre os níveis citados anteriormente, são vistas na forma como é realizada a locomoção funcional. As crianças do nível II não necessitam de aparelhos auxiliares de locomoção depois dos quatro anos de idade, enquanto as crianças do nível III necessitam de aparelhos auxiliares de locomoção. As distinções entre os níveis I e II não são tão evidenciadas quanto as distinções entre os outros níveis10.
O tipo clínico predominante entre as crianças do estudo foi a diplegia espástica. Chagas et al.11 ao correlacionar o tipo clínico com a classificação funcional, verificaram que em relação ao GMFCS, os níveis I e II incluiu em quantidades equivalentes, crianças hemiplégicas e diplégicas, e no nível III, predominaram crianças com quadro de diplegia.
No presente estudo verificou-se que as crianças obtiveram evolução da função motora grossa nas duas dimensões avaliadas e na pontuação total do GMFM, nos dois momentos da pesquisa, mesmo não apresentando diferença estatística. Também foi observado que houve uma evolução maior, na dimensão andar, correr e pular do GMFM, após a associação da fisioterapia convencional no solo e terapia aquática com a RV.
O que se assemelha com o estudo desenvolvido por Meyer-Heim et al.12, que após treinamento de locomoção robótica assistida, mensuraram a melhora funcional da marcha dessas crianças com PC. Participaram do estudo 22 crianças (idade média de 8,6 anos), com PC e classificadas nos níveis II a IV do GMFCS. As principais medidas avaliadas foram: teste de caminhada de 10 metros, teste de caminhada de 6 minutos, o GMFM nas dimensões em pé e no andar, correr e pular, e a Functional Ambulation Categories (FAC). Os resultados obtidos demonstraram que o teste de caminhada de 10 metros, bem como a dimensão em pé do GMFM, melhorou significativamente após o período de intervenção. O teste de caminhada de 6 minutos, a FAC e a dimensão andar, correr e pular, também apresentaram aumento, mas não alcançaram um nível de significância estatística.
Outra pesquisa que corroborou com o presente estudo foi o descrito por Qiu et al.13, sobre o sistema The New Jersey Institute of Technology Robot-Assisted Virtual Rehabilitation (NJIT-RAVR), o qual combina a robótica adaptada a simulações de RV para o tratamento de deficiências e função de membros superiores em crianças com PC. Duas crianças participaram da pesquisa, uma com 7 e outra com 10 anos de idade, ambas com hemiplegia espástica secundária à PC. A intervenção foi realizada durante três semanas, sendo 3 sessões semanais de 60 minutos cada. Um dos participantes mostrou melhorias no desempenho funcional de membros superiores quanto à movimentação ativa e alcance, fazendo acreditar na possibilidade da utilização da RV como forma de melhorar o desempenho motor de crianças com PC.
Bryanton et al 14 realizaram exercicios convencionais e com a RV, registrando a cinemática do movimento do tornozelo nos dois casos. Participaram da pesquisa 16 crianças com diagnóstico de PC, sendo 8 do sexo masculino e 8 do sexo feminino, com idade entre 7 e 17 anos. De acordo com o diagnóstico funcional 8 apresentaram hemiplegia espástica, 2 diplegia espástica e 6 não tinham diagnóstico determinado. Entre as 10 crianças com diagnóstico funcional determinado, quatro foram classificadas no nível I do GMFCS e 6 no nível II do GMFCS. Os movimentos do tornozelo foram gravadas com um eletrogoniômetro. As crianças completaram mais repetições dos exercícios convencionais, mas a amplitude de movimento e tempo de espera na posição de alongamento foi maior durante os exercícios de RV. Estes dados sugerem que o uso de RV para induzir ou guiar os exercícios podem melhorar o cumprimento do exercício e aumentar a eficácia do mesmo.
O presente estudo demonstrou que houve evolução estatisticamente significativa, ao verificar a evolução obtida pelas crianças de nível II e III do GMFCS, nas dimensões em pé e no andar, correr e pular do GMFM, nos dois momentos da pesquisa . Portanto, pode-se evidenciar que a RV beneficiou de forma mais específica as crianças classificadas nos níveis II e III do GMFCS.
Essa melhora na função motora grossa de crianças classificadas nos níveis II e III do GMFCS, também foi demonstrada por Deutsch et al. 15 em seu estudo. O objetivo dos autores foi descrever a viabilidade e os resultados da utilização do Nintendo Wii, na reabilitação de um adolescente com PC. O paciente apresentava diagnóstico funcional de diplegia espástica e classificação funcional no nível III do GMFCS. Foram realizadas 11 sessões, com duração de 60 e 90 minutos e os jogos utilizados no treinamento incluíram os esportes boxe, tênis, boliche e golfe. E como métodos de avaliação foram utilizados o Teste de Percepção Visual Skills, o controle postural, distribuição de peso e medidas de balanço, e a mobilidade funcional na marcha. Os autores verificaram que, houve resultados positivos na função motora e na funcionalidade do participante após o treinamento especifico com os jogos do Wii esportes.
Apesar do curto período de intervenção do presente estudo, verifica-se que os jogos da RV podem ter auxiliado na melhora da função motora grossa das crianças com PC. Foi encontrado na literatura pesquisas que se assemelham ao presente estudo no tamanho da amostra e no tempo de aplicação da RV.
Com o objetivo de investigar, os efeitos do treinamento através da RV no controle motor de crianças com PC, participaram de um estudo quatro crianças com diagnóstico de PC (3 meninos e 1 menina), média de idade de 6 anos, sendo 3 quadriplégicos espásticos e 1 hemiplégico espástico. Foram 4 semanas de programa de treinamento individualizado, com 2 horas semanais de atendimento. As medidas de avaliação incluíram quatro parâmetros cinemáticos (tempo de movimento, comprimento do caminho, pico de velocidade e número de movimentos) e a avaliação motora fina com o Domínio da Peabody Developmental Motor Scales (PDMS-2). Após as 4 semanas, as crianças demonstraram melhora no controle motor e na qualidade dos movimentos, especialmente naquelas com cognição normal e uma boa cooperação16.
Atualmente, as evidências com efeitos positivos após RV em crianças com alterações sensório-motoras são escassas, sendo esses estudos primariamente limitados aos experimentais e piloto, contendo pequenas amostras e tempo reduzido de aplicação da RV17. Em uma revisão sistemática realizada pelos mesmos autores, que avaliaram o impacto da RV na capacidade motora de crianças com transtorno sensório-motor, foi observado que 13 dos 16 estudos encontrados relataram resultados positivos, embora dois estudos não mostraram melhora significativa. Nove estudos investigaram a qualidade do movimento, sendo que dois não apresentaram melhoras significativas e sete relataram resultados positivos. Os autores concluiram que a utilização desse tipo de intervenção na reabilitação de crianças com distúrbios sensório-motores é uma área muito promissora.
Svidtrup18, ao verificar a aplicabilidade da RV e de ambientes virtuais na reabilitação motora, observou que a RV fornece um meio adequado que auxilia na intervenção e em uma reabilitação mais efetiva. Além do valor da experiência de
reabilitação para o usuário, beneficiando suas habilidades motoras e funcionais, a RV permite ao terapeuta graduar as atividades e documentar a intervenção, utilizando vários sistemas tecnológicos.
O Wii Fit da Nintendo foi utilizado neste estudo no intuito de demontrar sua eficácia na melhora da capacidade motora de crianças com PC. Porém, apesar da evolução obtida após sua utilização não pode-se afirmar que essa melhora esteja relacionada com a utilização desse novo recurso. A literatura atual tem demonstrado que aliado ao tratamento convencional, o Nintendo Wii pode promover a melhora da capacidade motora e o controle postural de crianças com alterações neurológicas.
No estudo realizado por Ching-Hsiang et al.9 ao analisar o controle postural no Wii Balance Board, os autores observaram que os participantes aumentaram significativamente a sua resposta de controle postural. Porém, os resultados obtidos não são conclusivos, concordando com o presente estudo. Os autores afirmam ainda, que são necessários mais estudos com o Wii Balance Board, para detectar correções posturais de indivíduos com alterações neurológicas. Ao verificar a influência dos jogos do Wii Fit da Nintendo no equilíbrio de um paciente com disfunção cerebelar, Schiavinato et al.26, em seus resultados sugerem que a RV oferece melhora do equilíbrio, assim como maior independência para realização das tarefas diárias.
Reid6 afirma que a RV influencia no comportamento, na criatividade e na persistência em realizar a atividade proposta. Nos casos em que não ocorre melhora, a razão pode estar relacionada com a frustração sentida pela criança em não conseguir realizar a atividades. E de acordo com Brütsch et al.19 o cenário virtual induz um efeito imediato na qualidade do movimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação à evolução da função motora grossa, observa-se que as crianças obtiveram melhora no que se refere à postura de pé e no andar, correr e pular, após os dois momentos da pesquisa. Sendo que a dimensão andar, correr e pular do GMFM obteve melhor evolução quando associado à RV.
Ao analisar o efeito isolado da RV os resultados demonstraram que essa terapia promoveu evolução significativa da função motora grossa referente ao andar, correr e pular das crianças participantes do estudo. Pode-se evidenciar ainda, que a RV beneficiou de forma mais específica as crianças classificadas nos níveis III do GMFCS.
Sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas para verificar a aplicabilidade e a influência da RV, através do Wii Fit da Nintendo, na melhora da capacidade funcional de crianças com alterações sensório-motoras.
REFERÊNCIAS
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